Poucas pessoas sabem, mas eu adoro um bom jogo de baralho, dos milhares que existem o que eu mais jogo é o truco, que consiste em fazer três trincas de cartas de mesmo tipo, número ou uma sequência do mesmo naipe. Eu jogava demais, tanto que meu baralho ficou completamente gasto, depois eu acabei parando um pouco porque a minha parceira de jogatina acabou ficando obcecada por mim, mas este é assunto para outro post, prosseguindo, eu adoro um jogo de cartas, mas o que eu mais tenho admiração é mesmo pelo melhor deles, o “Pôquer”.

Eu conheci o jogo após assistir o filme Maverick, em que o personagem principal homônimo, interpretado por Mel Gibson, é um jogador de pôquer e se mete em enormes confusões para poder participar de um grande torneio deste jogo. O filme é ótimo, cheio de aventura, comédia, ação e romance, mas o foco principal é mesmo o carteado.

Muito mais que um jogo de cartas, o pôquer é um jogo de gente, onde o controle de suas emoções, o total conhecimento das reações humanas e a própria manipulação de individuo, faz com que o baralho seja um mero coadjuvante neste campo de batalha, onde quem melhor conhece o adversário é o vencedor levando tudo. É um jogo magnífico, que para vencer as pessoas usam inúmeras armas que vão de desde óculos escuros a fingir caretas, mas a melhor de todas com toda certeza é o “blefe”.

Para quem não conhece, o blefe consiste em fingir descaradamente que possui as melhores cartas de toda a sua vida na mão e fazer com quem os outros adversários acreditem nisto, para que eles fiquem com medo e abandonem a mesa deixando tudo para o “blefador” e a melhor maneira de fazer isto é apostando o mais alto possível ou mesmo até todas as fichas disponíveis com o puro intuito de coagir os demais jogadores a não prosseguir com a jogada. É lindo, ao ponto de ser uma verdadeira arte, que somente alguém muito seguro de si e com completo controle tanto das pessoas, quanto do ambiente é capaz de desempenhar com a maestria necessária para obter o final desejado e é neste ponto que a nossa história se complica.

No início da semana um amigo me arrumou 04 clientes, todos donos de lojas de peças de motocicletas, e estavam desesperados com um caso que poderia a princípio até parecer bastante complicado, mas na realidade era bem simples de defender. Nesta ocasião eu cobrei R$ 2000,00 para defendê-los, porém meu amigo achou que estava cobrando barato e fechamos em cobrar o valor de R$ 3000,00, onde R$ 2000,00 ficariam para mim e R$ 1000,00 para ele.

No dia de conversar com os clientes eu fui magnífico, expliquei com perfeição tudo para eles e mostrei que o caso deles não era tudo aquilo que eles pensavam, passei confiança total para todos eles tanto que nem reclamaram do valor que eu impus. Todavia, no dia seguinte vieram chorando pedindo para diminuir o valor. Quando fui encontrá-los novamente, fui descido em não diminuir de forma alguma o valor previamente estabelecido, primeiro porque se eu baixasse assim tão fácil o valor eles poderiam achar que eu estava desesperado para achar cliente (o que de fato estou, mas não preciso dar na cara) e assim eles poderiam posteriormente me pagar muito abaixo do valor já que eu já abri uma vez posso fazer duas, segundo porque quem é bom é caro e não precisa assim ficar se rebaixando para pegar clientes.

Neste espírito cheguei ao local onde peguei uma enorme pressão de todos eles me fazendo a todo custo baixar o valor, eu tentei até negociar fazendo as parcelas serem de 02 vezes para 03, sendo a primeira no ato e as demais no curso do processo, entretanto mesmo assim eles acharam caro. Foi quando o mais turrão deles veio e estipulou o valor que ele achava justo e que eu deveria receber, pois eles conversaram com 02 outros advogados e chegaram a esta conclusão. Neste momento foi que eu, incorporando o maior espírito do pôquer lancei mão do maior blefe da minha vida até este atual momento, eu simplesmente levantei, agradeci, pedi desculpas por ter os feito perder tempo, devolvi a documentação e sai dizendo que eles estavam livres para procurar outros advogados. Eu não tinha nada, nem clientes, nem dinheiro, nem porra nenhuma, mas agi como se fosse o maior advogado do mundo e eles que deveriam estar rastejando para que eu os ajudasse, ou seja, eu blefei legal.

Depois que toda a adrenalina passou, eu caí na real e me deu um arrependimento louco, putz, como foi que eu abri mão de R$ 1500,00 (descontado a parte do meu amigo), cara, o pior é que eu nem posso voltar atrás, agora é seguir em frente e ver no que vai dar, ou eles pagarão pra ver e vão arrumar outro advogado que pegará a ação deles pelos R$ 2000,00 ou eles vão cair em meu blefe e vir correndo atrás de mim para fazer a ação deles pagando o valor que eu pedir, eu preciso dizer o que vai acontecer?

Resumindo me lasquei e me lasquei legal, mas aprendi pelo menos duas grandes lições deste fato: A primeira, é necessário ser humilde principalmente no início da carreira, você tem que dar um passo de cada vez e não um passo em que você pode cair de bunda no chão; A segunda, que se for blefar no mundo da advocacia você tem que está de completo domínio da situação, vestido dos melhores ternos dos melhores estilistas do mundo, dentro de um escritório situado na melhor área da cidade, totalmente mobiliado de tudo que há de melhor em móveis, livros e aparatos eletrônicos e com um carro caríssimo do lado de fora. Os melhores advogados de São Luís são também verdadeiro artistas na arte do blefe, cabe a mim agora aprender a ser assim também, para que eu posso ser maior que eles. Ai meu Deus...